Chico Picadinho e o Fantasma da Bailarina Austríaca esquartejada em São Paulo.

Dino Menezes
7 min readSep 7, 2019

Pra Quem Acredita em Fantasmas 2 / Histórias Extraordinárias

Margareth Suída

Algumas histórias macabras se originam de algum acontecimento trágico. A história que vamos contar tem esse elemento e acontece nos anos 1960, com uma jovem bailarina austríaca que é morta e esquartejada em São Paulo. O mais curioso e perverso é que ela foi cortada em pedacinhos e teve a carne distribuída em baldes e malas.
O crime lembra o do famoso esquartejador de Londres, Jack, o Estripador, assassino que nunca foi realmente identificado. Mas esse psicopata é brasileiro, e bem conhecido. Tem nome e uma alcunha recebida depois do primeiro assassinato: Chico Picadinho.
Francisco da Costa Rocha nasceu em Vila Velha, no Espírito Santo, no ano de 1942. Filho de uma prostitua, não teve uma vida fácil. Nasceu em um bordel, sofreu abusos sexuais e assistiu, lamentavelmente, aos maus tratos sofridos por sua mãe. Era comum ela sofrer agressões verbais e até, vez por outra, apanhar dos clientes. Na infância, Chico matava gatos para se alimentar, mas, com um certo prazer sádico e requintes de crueldades, cortava os bichanos em pedacinhos.
Expulso de casa, após brigas com sua mãe, o menino Francisco cresceu em ambiente hostil, adquirindo malandragem e inteligência para lidar e convencer as pessoas, o que é muito comum à maioria dos psicopatas. Na adolescência, Francisco dizia ter pesadelos com a mãe e com os abusos que sofria na infância, e começou a sentir coisas estranhas e ver vultos. O que era tido como “apenas a imaginação de um menino que lia muito”, já que aos 13 anos ele já havia lido todos os livros do escritor russo Dostoiévski. Seu preferido era Crime e Castigo, que conta a soturna história de um assassino em busca de redenção e ressurreição espiritual.
Chico viveu uma juventude promíscua, tinha claramente compulsão sexual e, como era persuasivo, relacionava-se intimamente com muitas prostitutas, mas também com ditos “homens de bem”. Teve muitos parceiros, em noites regadas a bebidas e drogas. E tudo acontecia em um pequeno apartamento na rua Aurora, na Boca do Lixo da boemia paulistana. Ele dividia o local com um médico, que também usava o imóvel para encontros furtivos.
Até que, em 1966, Chico, com 24 anos, conheceu a bailarina austríaca Margareth Suída, que vivia no Brasil há pouco tempo… e é o personagem fantasmagórico da nossa história. Encontro que despertou a fúria macabra de Francisco e culminaria numa explosão de ódio e loucura.

Chico Picadinho 1966

A jovem bailarina e Francisco conheceram-se em um dos bares da rua Aurora, numa noite de garoa, típica da cidade de São Paulo. O rapaz charmoso e sedutor fez de tudo para conquistar a moça que se mostrava um tanto arredia, talvez pressentindo algo. A jovem bebia como se fosse o último dia da sua vida, e era…
Por volta das três da manhã, o casal deixou o bar na direção do prédio em que o futuro assassino morava. Eles estavam totalmente embriagados. Riam e falavam alto, chamando atenção das pessoas que restavam na rua àquela hora da madrugada. Dentro do apartamento, o que era pra ser uma noite de amor, acabou em tragédia: Francisco, bastante entorpecido pela bebida, não consegue manter relações com bailarina que, mais bêbada ainda, começa a zombar dele, levantando dúvidas sobre a masculinidade do parceiro sexual. Naquele momento veio à tona na cabeça transtornada de Chico, como um pesadelo, tudo que ocorrera com sua mãe, e os abusos sexuais a que ele era submetido quando criança. E em um momento de fúria, ele a sufoca com as próprias mãos, terminando de enforcá-la com o cinto.
Ele diria depois que teria perdido a consciência durante o momento do assassinato. Depois, pra se livrar do corpo, ocorreu o ato mais bárbaro. Ele cortou a mulher minuciosamente em picadinho e distribuiu os pedaços em baldes e malas, para se livrar do corpo. Demorou de 3 a 4 horas até desmembrar a vítima e colocá-la dentro de uma sacola, pois sabia que o amigo com quem dividia o apartamento estava para chegar.
O disfarce não foi suficiente e, denunciado pelo médico, teve de fugir. Com a repercussão do caso nos jornais da época, Chico Picadinho é logo encontrado na casa de outro conhecido, vai preso, e é condenado a 18 anos de prisão.
Mesmo encarcerado, se casa com uma amiga, tem uma filha, e depois de 10 anos sai da prisão, liberado por bom comportamento. Então, troca de parceira, tem outro filho, e leva uma vida normal, trabalhando para sustentar a família. No entanto, pouco tempo após o segundo casamento, ele desiste da vida pacata e volta para a Boca do Lixo.
Conhece agora a prostituta Ângela Silva, conhecida como “moça da peruca”, que seria a sua segunda vítima. As coisas acontecem exatamente como no primeiro assassinato, só que dessa vez ele esquarteja a vítima com um cuidado muito maior e tenta jogar alguns pedaços no vaso sanitário. Em nova fuga, para o Rio de Janeiro, é preso numa praça enquanto lia um jornal que trazia na manchete os seus crimes.
Em 1976, o Conselho de Sentença condenou Francisco a 30 anos de prisão por homicídio qualificado, devido principalmente à grande repercussão do caso na imprensa e na opinião pública, que ficara horrorizada com as fotos das mulheres esquartejadas nos jornais.

Noticias Populares 1966

Lá se vão mais de 50 anos e a história trágica não é esquecida, principalmente porque dizem que, nas noites frias de garoa, há quem veja o fantasma de Margareth Suída descendo a rua Aurora, andando leve como se caminhasse em nuvens, com passos de bailarina. Aliás, são muitas as histórias que envolvem uma garota jovem, com forte sotaque, que conhece rapazes, os seduz e os leva até seu apartamento. Mas não os deixa subir.
Alegando motivos diversos, sempre pede para que esperem na frente do prédio enquanto ela se prepara. E, quando vão ver, a mulher não volta, e nunca existiu. Assim, o porteiro já está cansado de orientar esses homens: mostra o jornal que relata a tragédia e a foto da moça morta, que é sempre a mesma que dizem ter acabado de conhecer.
O zelador Roberval dos Santos, de 74 anos, relata: “Perdi a conta de quantos homens já passaram a noite na frente do prédio esperando pela mulher, e de quantas vezes tive de lhes explicar sobre o caso macabro. Alguns não acreditam e vão embora me xingando.
Aliás, vi de tudo aqui, até marmanjo desmaiar na calçada. Eu já trabalhava no prédio quando aconteceu a história do Chico Picadinho. Foi um caso muito barra pesada e os jornalistas vinham aqui o tempo todo tirar foto do prédio.
Teve muito morador que até se mudou. Dizem que moça assassinada ainda está no local em que morreu, mas eu mesmo nunca vi nada. O apartamento tá fechado desde os anos 1980. Tentaram alugar, mas ninguém fica, não. E dizem que coisas muitos estranhas acontecem lá dentro.
São ouvidos, choros, gemidos e, para alguns, a moça morta aparece pelada no chão da sala, toda em picadinhos, pedindo ajuda… ninguém fica, não. Aí, com o tempo, pararam de alugar o imóvel, e ele fica fechado. Trouxeram até padre, médiuns, pai de santo, e ninguém deu jeito. Falam que a mulher, em espírito, ainda quer ajuda, por isso que traz os rapazes até a porta.”

Chico Picadinho, hoje com 75 anos, ainda cumpre pena em um manicômio judiciário, a Casa de Custódia de Taubaté. Essa decisão foi tomada após laudo médico em que ele foi apontado como uma pessoa de personalidade sádica e psicopática. Na cadeia, mostra-se lúcido, e passa os dias praticando pintura.
Ele diz não ter sentido culpa em momento algum, porque as mulheres que matou e retalhou o remetiam à memória da mãe, a quem não perdoava por ter-lhe submetido, enquanto criança inocente, a várias barbaridades. Fala ainda que não acredita nas aparições e lendas que envolvem seus crimes e que, ao cometê-los, agiu sob a influência do romance Crime e Castigo, de Dostoiévski, a quem chama de Deus.
Publicado em 1866, pelo escritor e jornalista russo Fiódor Dostoiévski, o livro narra a história de um crime cometido pelo estudante Ródion Raskólnikov, e as suas consequências. Assim, para terminar essa história tenebrosa, vale ressaltar uma curiosidade sinistra: o primeiro crime aconteceu cem anos após Dostoiévski ter escrito o livro…

Fiódor Dostoiévski 1866

Texto e Fotos: Dino Menezes (Copyright / Todos os Direitos Reservados)

Revisão e colaboração: Simone De Marco Rodrigues

Designer e diagramação: Vanessa Rodrigues Aguiar.

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Dino Menezes

Idealizador do Projeto “Pra quem acredita em fantasmas“. Histórias de Terror baseadas em fatos reais. #cinema #literatura #fotografia #teatro